Escrever é descritivo, mas a sensação é indescritível. É um ato extraordinário e bizarro. Tudo começa com uma ideia, que surge efémeramente onde e quando quiser, mas, de imediato, ocupa todo o meu pensamento.
Se for durante o dia, interrompe o meu trabalho e outros afazeres.
Se for a meio de uma conversa, uma viagem com alguém, o que quer que esteja fazendo com outros, envenena o discurso, matando-o. Fica o silêncio, pois no interior, no cérebro, estou a gladiar-me com o ela.
Se for durante a noite, arranca-me do meu merecido descanso.
Por muito que a tente ignorar, ela vai batendo à porta com cada vez com mais força e não para enquanto eu não a deixo sair; enquanto não for materializada, seja de que forma for.
Nestas batalhas internas, pouco épicas, a ideia embrião vai ganhando forma. Começa a ganhar pernas, braços, assas e pés. Chega, então, a melhor parte: vê-la viajar, até ao seu destino.