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Cabeça Ruminante

Capa de Save the Cat! Writes a Novel

Hoje venho-vos falar do livro escrito por Jessica Brody: Save the Cat! Writes a Novel - The Last Book On Novel Writing You'll Ever Need. Este livro com um nome engraçado é, na verdade, uma adaptação para o mundo da literatura de outro livro, o Save The Cat - The Last Book on Screenwriting You’ll Ever Need, por Blake Snyder.

Ambos os livros desenvolvem o método "Save the Cat", usado inicialmente para estruturar os guiões para cinema, e que depois Jessica adaptou para estruturar livros.

No fim deste post, fica a história por de trás do nome deste método!

Por agora, queria-te contar como este livro teve algum peso na minha curta vida enquanto escritora. Como referi no meu post anterior (o Livros Sobre Escrita & Eu), os livros que abordam a temática da escrita foram, para mim, uma revelação.

Este em especial! Foi dos primeiros livros que comprei, e o primeiro em que encontrei algo parecido com a "estrela do norte” (que era o que buscava.)

 

A realidade é que, na escrita, nem sempre precisamos de saber onde estamos, mas é bom sabermos para onde caminhamos. É bom saber que caminhamos para um fim (seja ele bom ou mau, precise ele de mais ou menos correções).

E este livro serve como um autêntico guia para escrita de uma história, para a escrita de um livro. É um guia bastante completo, descansem os mais receosos! O Save the Cat! Writes a Novel apresenta-nos um plano (quase) infalível, capaz de se adaptar a qualquer história; até histórias escritas antes da sua “invenção.”

(Se tiverem curiosidade, podem visitar o site de Jessica, onde estão disponibilizados vários exemplos de livros (e até filmes) segundo estrutura dos 15 Pontos do Save the Cat.)

Eu sei que, por vezes, palavras como “guia”, “plano” ou “formula” assustam os escritores (e até leitores.) A mim também me assustam. Formular uma história retira algum espaço à originalidade, ao pensamento livre e solto.

Mas, também é verdade que nada é original. Há dois mil anos que escrevemos livros, e há dez mil anos que contamos histórias. Por isso, nada do que fazemos é novo. A forma vai mudando, as técnicas e convenções também, mas o objeto que está no centro de todas as histórias mantém-se inalterado: a humanidade. A nossa existência é o que está por de trás de todas as histórias.

E, vendo as coisas deste prisma, é mais fácil deixar cair o preconceito da “formula” — que é o que está na essência do Save the Cat! Writes a Novel.

Além de que, para quem começa a escrever, a sensação de fórmula ajuda muito na confiança. “Quem não sabe, é como quem não vê” diz o povo, e o meu caso não foi exceção. Quando me atirei de cabeça para a escrita da minha história (uma escrita mais complexa), sentia que não via.

Sentia-me muito perdida (continuo um pouco, na verdade), não sabia o que estava a fazer. Pior que isso, sentia-me sem ajuda e sem chão. Não sabia lidar com as minha emoções, ou com as minhas decisões. E isto facilmente resvala para coisas mais pessoais, e ainda que não desse conta, história e escritor misturam-se. E assim, quem é que não presta realmente?

O vazio instalou-se. Sentia-me suspensa nesta sensação de vazio, como um ser errante, uma alma penada quase.

 Precisava muito de ajuda, de algo que validasse o que sentia e que me apontasse para uma resposta. Fosse ela “isso é normal” ou “isso não é nada normal.”

“Lá fora” poucos são os que falam sobre o que é, ou como é, pensar um livro. Sinto que se fala muito (e bem) sobre a arte da escrita e bons e maus livros, mas pouco sobre o processo. Como é que se pensa um livro, ou numa história? Como encaminhamos este belo objeto, desde o seu primeiro momento?

Imagem a ilustrar dois gatos

No início, o objeto final (o livro) ainda é tão irreal, tão imaginário e longe do dia em que se irá materializar nas nossas mãos (se é que sequer lá chega). O que acontece desde o ponto A (ter uma ideia) até ao ponto B (ter o livro ponto a imprimir a primeira centena)?

Eu ainda não sei a resposta, mas com este livro percebei que o caminho, na verdade, contém muitas mais letras. É menos de A a B, e é mais de A a Z. Só este livro, que aborda pouco mais do que a estrutura, protagonista e tipos de histórias, estão várias letras. Ele (este livro) dá uma perspetiva sobre o Herói (também conhecido como Protagonista), sobre a estrutura de uma história (no caso, os 15 Pontos do Save the Cat), sobre os vários  tipos de histórias (cerca de 10 tipos, não confundir com o género de história) e como adaptar esta estrutura dos 15 Pontos a esses tipos de histórias.

No fim ainda aborda outros temas como as loglines e sinopses, os tipos de narradores e uma espécie de FAQs sobre o método.

Não queria falar nesses pontos com detalhe, talvez o faça noutro post. O que queria exprimir aqui é que ele me ajudou bastante. Deu-me confiança, mais que não seja por apontar as minhas falhas. Percebi o que fazia de mal, percebi o que as pessoas procuram num livro e como procuram coisas diferentes consoante o tipo de livro (o que faz algum sentido.)

Ajudou-me a balizar o pensamento, e aceitar que nem tudo que escrevo fará sentido e terá eventualmente de ser cortado. E ensinou-me que isso não é mau, mas sim, parte do processo.

Como é óbvio, este livro não fez de mim melhor escritora ou contadora de histórias, mas deu-me a confiança que precisava para seguir em frente. Ajudou-me a ver onde meti os pés na poça, mas também ajudou-me a ver como o meu pensamento já estava mais ou menos alinhado com a ordem natural dos acontecimentos (talvez por ler, interiorize naturalmente a estrutura de uma história.)

Talvez já tivesse desistido do “LOSGoM” não fosse ter encontrado este livro, daí o meu carinho especial por ele.

Recomendo vivamente a quem está a começar, para que fique com uma base para trabalhar e crescer. Infelizmente, o livro só está disponível em inglês, e não creio que vá existir uma versão portuguesa tão cedo.

Ah, já agora, fica a nota sobre o nome "Save the Cat": a expressão veio do mundo do cinema. Foi cunhada pelo Blake (no Save The Cat!, The Last Book on Screenwriting You’ll Ever Need), onde ele afirma que, quando escrevia os seus guiões, se tivesse um herói (um protagonista) detestável em mãos, tinha que fazer algo no início da história, para a audiência ficar imediatamente do seu lado. E como ele fazia isso, adivinham? Exatamente, pondo o herói a salvar um gato de uma árvore, um prédio em chamas ou de um gatil, para cativar empatia para com o herói. Foi assim que nasceu o nome.

Quem tiver curiosidade sobre os 15 Pontos do Save the Cat, ou os tipos de histórias descritos no livro, diga!  Assim poderei fazer um post mais focado no conteudo do Save the Cat! Writes a Novel.

 

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