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Cabeça Ruminante

Tablet com capa de Bird by Bird

Comecei a ler o Bird by Bird (Some Instructions on Writing and Life) de Anne Lamott. Já algum tempo que não lia um livro sobre Escrita e isso pôs-me a pensar nos outros que li e como cheguei até eles.

Quando quis tentar a sorte de escrever o meu primeiro livro, tinha a energia para o começar, tinha o ponto de partida e tinha um sorriso confiante nos lábios.

Mas!, estava bastante perdida; como é que se começa tal coisa? Por isso, achei que devia aprender como o fazer. Tudo certo.

É um oficio, como tantos outros, por isso deve haver quem ensine a escrever um livro. Percorri cursos online sobre o assunto e comprei/subscrevi a alguns.

Com desgosto aprendi que as coisas não iam ser tão fáceis quanto isso, e não digo isto no sentido de que é difícil de passar da teoria à pratica. A dificuldade estava já na parte teórica!

Talvez tenha tido azar com os professores/cursos que encontrei, mas fiquei com a sensação de que era difícil de ensinar como raio é que se escreve um livro, como é que se escreve uma história!

Quase todos os cursos começavam bastante promissores, prometendo mundos e fundos a nabiços como eu, que os meus olhos e ouvidos sorviam sofregamente. Cursos que prometiam abordar todos os aspetos da escrita e que até garantiam que ia ter um livro escrito no fim...

E, atenção, eram professores/autores com currículo, com livros interessantes e diferentes, com uma sensação de alma neles (nos livros.) Um deles até com um autor português.

 «Sim, este/esta sim! É agora que vou aprender, de uma ponta à outra, a escrever a minha história!», pensava animada. Para descobrir, duas vídeo-aulas depois, que o curso ia ser tão ou mais vago quanto os anteriores.

Senti que o meu caminho acabara, ainda antes de começar.

Porque é que cursos, supostamente indicados para pessoas novas nestes trilhos, sovam tão... vazios. Apresentavam conceitos vagos, que pouco ajudavam quem não tem confiança no que está a fazer.

«É o que é; não se ensina a escrever um livro. É impossível. É demasiado pessoal e autorodependente, tem que já estar no nosso sangue», aceitei.
 
Sentia-me sozinha e desvalidada. Mas, a teimosia tem um lado de sonhador. Assumi para mim mesma: se tem que ser por mim, pois que seja. Eu preciso de perceber se é isto. Sendo que o isto é a sensação de vocação, que todos procuramos.

Não me iludi em excesso e sabia as "consequências" da minha decisão. «Tu nunca escreveste antes, nada do que tu faças será um bestseller. Não tão cedo, pelo menos. Nem será sequer vencedor de prémios», e tudo bem. Percebi que não era isso que estava à procura, mas sim algo mais frio:

Quem sou eu, afinal? Porque vivi as coisas que vivi? Porque penso e acho da forma como faço? Porque me sinto à parte, distantes dos outros? Tenho que arranjar respostas.

Quem sou eu, afinal? Porque me encontro na escrita agora, e nunca o fiz antes? Se calhar é melhor não arranjar respostas...

Não! É melhor sim, tenho que saber. Tinha que me compreender.

Atirei-me à estrada, só para depois ficar encadeada assim que lhe pousei os pés. O lado sonhador da teimosia tende a desvanecer-se rápido.

Arranquei o meu livro diversas vezes. Não por estar mau, que estava estava certamente, mas porque era abalada várias vezes pelas minhas próprias nuvens. O ponto partida mudou várias vezes, com personagens diferentes, passados e presentes diferentes. O que se mantinha era o universo da história.

Acabei por desistir. Não passava das 30 páginas, porque por essa altura achava que estava a cometer um grande erro e voltava à estaca zero. Desisti, de forma consciente.

Acabou-se.

A resposta estava dada: «não é esta a tua vocação, não é este o teu caminho. Não dá para aprender e tu não consegues passar do zero, por isso esquece.» Parei de escrever.

E a vida continuou. Mas a minha mente permaneceu parada naquelas histórias que deixei paradas no tempo.

É engraçado como, por vezes, um afastamento daquilo que mais queremos é que nos ajuda a confirmar se é assim mesmo. Ajuda a limpar as nuvens que encobrem o céu. Pelo menos, no meu caso foi.

Como tudo na minha vida, até então, tinha sido fácil de abandonar, achei que a escrita também ia ser. Tinha tentado, sem sucesso; estava experimentado. Tinha gostado? Muito, mas não correu bem, pronto! É o que é (mais uma vez.)

Porém, com o avançar da idade, descubro que nem tudo é preto e branco. Poucas coisas o são, na verdade, mas eu ainda tenho muito que navegar para chegar a essa conclusão em pleno.

O formigueiro de escrever nunca me saiu das mãos, durante todos aqueles meses. Pessoas continuavam a habitar a minha cabeça, continuava a ouvir diálogos e a ter visões com quem desconhecia, enquanto ouvia musica ao passear o meu cão cagão.

Desisti de desistir e voltei a querer escrever. A querer escrever um livro, o meu livro. E agora tinha que o levar até ao fim, provar a mim mesma se sou capaz.

Decidi voltar a procurar ajuda, mas desta vez não ia atrás de cursos. Aprendi que o marketing é uma ferramenta muito poderosa, assim como os preços baixos e a frase "este curso é para todas as pessoas que gostam de escrever" (que é bastante indicativo da sua eficácia.)

Só então descobri esta maravilha de livros sobre escrita. Parece-me bastante óbvio agora, mas não o foi na altura. Os cursos pareciam mais aliciantes, talvez pela ideia (errada) de poder ser notada de alguma forma.

Tudo errado. Mas nos livros, tudo certo. Os livros parecem ser sempre a resposta, pelo menos para mim. É uma coisa estruturada, concisa, que tem em si a voz do autor e a sua forma de pensar e escrever.

Mesmo os livros não tão objetivos e mais vagos, sinto que me acrescentam montanhas e elevam a minha confiança para um novo patamar.

Comecei por ler o Quem disser o contrário é porque tem razão de Mário de Carvalho, depois o Manual de Sobrevivência de Um Escritor (ou o Pouco que Sei Sobre Aquilo Que Faço) de João Tordo. Já li o Escrever de Stephen King, o Save the Cat! Writes a Novel (The Last Book On Novel Writing You'll Ever Need) de Jessica Brody e estou agora a ler o Bird by Bird.

Todos são diferentes e apresentam ideias diferentes. Uns mais práticos outros mais poéticos.

Pessoalmente, como me encontro no inicio, gosto de livros mais concretos sobre o que fazer, como escrever, mas todos acrescentam algo, como já tinha dito.

E são as minhas recomendações a quem quer começar e não sabe como: começa pelos livros sobre o assunto. Não há que enganar! E gostava de falar sobre eles todos e como me ajudaram... se calhar é isso que vou fazer nas próximas semanas.

Entretanto, gostava de ler mais livros sobre este assunto da escrita, alguma recomendação? 

 

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