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Cabeça Ruminante

Sinto-me a definhar; sinto que a minha essência esta a ser sugada, para algo que não compreendo o que é. Apenas sinto os seus efeitos nefastos que, para além de drenarem, também contaminam. O veneno entra e mistura-se comigo.

Parte do meu sangue, e pensamento, já não é bem meu, é desta entidade.

Tento a todo o custo manter a minha alma limpa, mas a cada dia que passa, "ela" está mais perto de a alcançar. Ate já me fez esquecer de ti, pois sabe que és parte da minha cura.

Mas eu luto, e escrevo-te no dia seguinte. Duas vezes. Não a posso deixar ficar com a minha salvação e com o meu último riso.

Há casas que são dor,
E a vossa é uma delas.
Pois vocês, já não param à janela.

Os vossos sapatos, lamacentos,
Já não decoram a porta da entrada.
No fogão da cozinha
Já não ferve nada,
E a televisão, está calada.

Percorro os quartos
E ainda que tenham vida,
Já não me sabe a nada
Pois, neles não dormem
Quem eu mais queria.

Consigo ouvir vozes,
Mas são as nossas.
Vejo ainda roupas,
Mas não as vossas.

Guardo uma horrível saudade.
E, ainda hoje, recuso
Aceitar a verdade:

Que Deus vos levou.
E agora eu,
Sou apenas uma metade.

Vejo nos teus olhos, que sentes a sua ausência.
Tu, mais que ninguém. Passaste mais tempo com ela, desfrutaste a sua presença até mais tarde. Sentes a sua falta.

Mas eu também.

Sinto falta da sua sombra, do seu sorriso, do seu timbre. Dos seus olhos.
Que para sempre me deixaram a dúvida de se eram cinzentos ou azuis.

Sonho com amanhã.
Com o dia em que poderei de novo abraçá-la.
Com o dia em que as nossas almas se unirão, novamente.

Espero que, por de trás desse olhar meigo, mas magoado, saibas que ela um dia vai voltar.
Aliás, que ela nunca nos deixou, nem nunca nos deixará.
Da mesma forma como tu nunca me deixarás, ou eu a ti.

Capa d'A Discussão

"Merda pra ti e pra tudo isto. Acabou."

Nádia releu a mensagem pela centésima vez, que continuava sem resposta. Sentia-se arrependida das duras palavras e, sentada no banco do comboio quase vazio, pensava em como as poderia remediar.

Era uma sexta-feira que se arrastava nublada e fria; um dia propício a discussões. Nádia estava decidida a mudar o rumo daquele dia, e por isso, ao sair da estação de comboio, virou no sentido oposto ao de casa e passou pelo supermercado.

Lembrou-se de fazer o jantar favorito do seu noivo: lasanha. Devido à complexidade da receita (ou melhor, ao tempo que ela demora a preparar), era muito raro fazê-la; menos ainda num dia de semana. Tinha a certeza de que aquela seria uma ótima surpresa, que apaziguaria as águas entre os dois jovens corações, e um gesto mais poderoso do que o simples: “Desculpa-me, não quis dizer aquilo.”

Com tudo comprado, seguiu caminho até casa a pé, carregada com um saco cheio numa mão, uma garrafa de vinho na outra, peito levantado e sorriso no rosto.

Hoje, ainda ia ser uma boa noite!

Joel também já não devia demorar; certamente já vinha a caminho de casa.

Enquanto programava o jantar na sua mente, e salivava com o cheiro da lasanha acabada de sair do forno e do seu amado noivo, um pé desatento pisa na estrada, mal vê o seu prédio. Sem se dar conta de quem vai estrada.

Nela, vai um carro que se apressa na sua direção, e que não aparenta qualquer intenção de parar.

 

Um dia sem ti...
Dois dias sem ti...

A tua ausência
Deixa um vazio difícil de preencher.
O nosso lar fica sem brilho.
A minha respiração, por um fio.
Fico num suspenso.

O que mantém o sangue
A correr-me nas veias,
É imaginar o teu beijo.
O teu beijo, que estanca o tempo.
É imaginar o teu abraço,
Que me acalma tantas tempestades.
É lembrar-me do teu riso,
Que me faz mergulhar
na leveza das nuvens.

Restam-me olhar para as nossas fotos
Para ganhar fôlego para mais um dia.
Mais um dia, em que o tempo
corre atrás da tua chegada.

Amo-te,
Para além destes versos.
Espero pela tua chegada
Para unir de novo os nossos mundos.
Para que isto, volte a fazer sentido.

Capa de O Fio de Presas

— A minha família! — gritou e num gesto com precisão suíça, agarrou no telemóvel, abandonando-o em cima do sofá. 

A última chamada ocorrera há duas horas. Era uma chamada da sua mãe. Em segundos, Lúcia devolveu a chamada, que não demorou a ser atendida.

— Olá, querida — diz uma voz abatida, mas doce e familiar, do outro lado da linha. — Como te sentes?

— Oh, mãe! Não acredito que te estou a ouvir!

— Então, filha? Que conversa é essa?

Lúcia, ainda trémula e com a voz seca e embargada, prosseguiu, contando-lhe tudo o que tinha acontecido.

— Credo, filha, que disparate! Foi só um sonho, porque é que o avô haveria de te dar um fio?

— O quê? — questionou Lúcia, olhado para o fio com as pontas puxadas e os olhos arregalados para confirmar o que via. — Não, essa parte é real. Ele deu-me mesmo um fio — com a mão que estava livre, pegou no objeto, para confirmar o que os seus olhos observavam —, estou neste momento a olhar para ele.

A lua, que brilha lá no alto,
É a mesma, para mim e para ti.
Por isso, te a dedico a ti.
Que seja sempre assim.

Onde quer que vás, ou estejas,
Ela sorri, só para ti.
Pois foi esse o meu desejo,
E que tu sejas sempre para mim.

Verdade como a lua ser da terra,
E a terra do universo.
Amo-te mais que tudo,
E anseio o teu regresso.

Até lá, mando o meu beijos à lua,
Para que estes cheguem a ti.
Pois, sempre que olhas p'ra ela,
Estás a olhar p'ra mim.

Capa de O Fio de Presas

Mais uma vez, os primeiros raios da manhã aqueciam ao de leve o seu rosto, fazendo-a despertar. Como era seu hábito, franzia o rosto e dava um urro; claros sinais de que não queria acordar. Era sábado, o seu dia favorito, e aproveitou para pensar no que tinha de fazer naquele dia.

«Hoje vai ser o dia mais feliz da minha vida! Nem acredito que finalmente chegou», pensava alto.

Era um sábado importante: o dia do seu casamento com Tiago. Depois de ultrapassar a vergonha e a timidez, finalmente arranjara coragem para lhe revelar os seus sentimentos. Na verdade, fora empurrada pelos seus colegas de trabalho.

Há um ano que partilhavam a vida dentro de quatro paredes, ambos sentiram que chegara a hora de oficializar a relação. Marcaram a cerimónia para o primeiro fim de semana de agosto, altura em que muitos dos seus amigos e familiares se encontravam de férias, incluindo os colegas de trabalho. Como mandava a tradição, tinha de haver despedida de solteiro e o noivo não podia ver o vestido (e a noiva) antes de pisar o altar, pelo que Lúcia passara a noite sozinha em casa. Ela não se importava com isso: a sua despedida de solteira acontecera há duas noites.

 

Ouvi os sinos ao longe
Passei a mão na testa
Tentei tirar o excesso
Da chuva
Cheguei ao portão
Abri e atravessei-o
Caminhei pelo chão
De tijolos de cimento
Olhei em volta
À procura de pessoas
Vi um pequeno aglomerado
Ao longe
Tentei reconhecer as caras
Reconheci
Percebi que me pertenciam
Desloquei-me até lá
Pelas ruelas definidas
Continuei a olhar em volta
Ia lendo as descrições
Tentei ignorar a chuva
Até que os tijolos acabaram
Pus os pés na terra molhada
Ouvi as pessoas
Caminhei em zig zag
Desviando-me de pequenos montes
Rectangulares de terra
Que não me pareciam correcto pisar
Cheguei finalmente
Olhei
Também já nada mais eras
Do que um monte
Com flores efémeras em cima
Agachei-me
Para ver a tua imagem pingada
Já estavas velho, mas o sorriso era o teu
Levantei-me de novo
Abracei a tua filha
Juntas, choramos a tua partida

Capa de O Fio de Presas

— Ei! Lúcia! — irrompeu Tomás, o contabilista, pelo seu gabinete adentro. — Mais logo, sempre podemos contar contigo?

— Tomás — iniciou com algum enfado —, já te disse que não. É quarta-feira, bolas. Amanhã tenho de trabalhar. E tu também!

— Eh, vá lá. É só um jantarzinho. Não me digas que não aguentas acordada depois das vinte e uma horas? — riu-se. 

Lúcia, porém, continuava a recusar a proposta. Tomás decidiu usar o seu único trunfo:

— Pronto, okay! Mas é pena, sabes? Esta noite vamos ajudar o Tiago, da Informática, a arranjar uma chavala. Até podias ser tu a chavala, se viesses. Quem sabe...

Com este novo dado, Lúcia repensou a sua recusa:

— Bem me parecia que vinhas.

— Vou, apenas porque és um chato e não me largas se eu não aceitar. Mais nada.

— Sim, sim. Claro — Tomás respondeu-lhe, piscando-lhe o olho antes de sair do gabinete. — Às vinte e uma horas, no restaurante do Zé Janota.

 

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